quarta-feira, 11 de abril de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Acredito que os cães podem falar, mas para não se envolverem nas mazelas humanas, preferem latir.”     Victor Hugo  *   



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De vez em quando, fico perto de Cacau e Kika. Esta quando me vê se afasta da gente. Aí, aposto corrida com a Cacau. É lógico que ela ganha a competição. Pudera! É muito maior do que eu! Nelma diz que Kika é bonita, tem olhos tristes e sonhadores, seus pelos foram pintados com delicadeza. Eu digo que Cacau é linda, tem olhos alegres e atrevidos, seus pelos foram pintados numa só cor em nuanças harmoniosas.
O banho das duas do quintal acontece em nossa casa. Por que falei banho? Lembro-me de Melissa, responsável pelo meu sufoco semanal. Felizmente, minha dona não pode ler pensamentos e, assim, não fica brava comigo, pois considera Melissa uma excelente profissional. Como dizem: “Pimenta nos olhos dos outros não arde”.
Kika e Cacau tomam banho numa boa. Nelma e Ju encarregam-se da higiene delas. Depois de secas, usam um perfume que foi comprado pra mim.
Nós três temos algo em comum, compreendemos a linguagem do pessoal de casa. Eu mais do que elas. Minha dona justifica isso dizendo que é por causa da convivência que tenho com o ser humano. Imagine! Discordo dela. Entendo as pessoas e me faço entender por ser muito inteligente. Algumas até conversam comigo. Mas Nelma é a única que se familiarizou com meu modo de transmitir o que pretendo. Ela afirma: “Os cães falam na linguagem deles.”
Zeus ainda não voltou pra casa. Toquinho e Coda continuam se estranhando. Quando Toquinho vai passear com seu dono usa coleira e guia. Fica tão importante!... 
Estou com um ano e três meses e ainda faço arte, minha dona reconhece que é com moderação. Mudei bastante. Se repreendido, eu obedeço.
Será que me transformarei no cãozinho sonhado pela Nelma? Francamente, não sei! O tempo dirá. Ah! Ia me esquecendo. Minha dona diz que sou muito inteligente. Afinal, reconheceu o que sempre esteve tão claro. Só não diz se sou mais inteligente do que o Tostão. Epa! Agora, fui eu que me lembrei dele. Deixa pra lá!
Eu e Nelma agradecemos ao professor André as belas fotos que ilustraram esta história.
Amigos, eu estou triste, pois nossos encontros terminaram. Foi rápido o período em que passamos juntos na telinha dessa invenção maravilhosa, o computador.
Gostaria de saber o que acharam do cachorrinho mais levado do planeta e... quase perfeito. O que vocês disserem, Nelma revela pra mim. Acreditem!
Assim que tiver novidades, volto pra lhes contar. É uma promessa!
Até de repente e não se esqueçam do Yan! Tchau!... au... au... au...

“Chegará o dia em que o homem conhecerá o íntimo de um animal. E nesse dia todo o crime contra um animal será um crime contra a humanidade.” Leonardo da Vinci *  *

* Escritor, poeta e dramaturgo francês.
* * Pintor, inventor, engenheiro, matemático, escultor, naturalista, poeta e músico italiano.

segunda-feira, 9 de abril de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Dos cães, às vezes, perdemos a confiança, nunca o amor! Mas sempre nos perdoam, pois sabem que somos imperfeitos.”    André Dorta   *




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Gente, eu reconheço que fui terrível! Agitação e teimosia fizeram parte de minha infância. E Nelma sempre agiu como se fosse um guarda-costas do sexo feminino! Vocês precisam vê-la em ação: anda perto de mim, corre quando eu corro, para quando eu paro, tenta não me deixar abocanhar nada. É ou não é guarda-costas? Isto acontece até hoje. Pois bem, numa noite, ela vacilou. Quando tirou o que restava da planta de minha boca, eu já engolira uma folha. Na madrugada, acordei e lati durante quatro horas sem parar. Tudo que Nelma fez pra me acalmar foi em vão. Lembrou-se da tal planta e supôs que meu comportamento fosse causado pela ingestão da mesma. Em voz alta, indagou: “Será que o Yan engoliu uma planta alucinógena?” Após passar aquelas horas de horror, dormi o dia inteiro e quase não me alimentei. À noite, ainda ouvi:
– O Tostão nunca fez algo que colocasse sua vida em risco, e você ultimamente não faz outra coisa!
Tostão de novo? Minha dona não se esquece dele nem me deixa esquecê-lo. Mas existe algo que faço, e ele não fazia. Quando sinto fome, levo meu pratinho até onde Nelma está. Ela sorri, pois sabe o que eu quero. Vai à dispensa e põe ração no prato. Embora não goste de comê-la pura, devoro-a num instante. Quem aguenta ficar com o estômago vazio?
-- * --
Minha dona também não é perfeita. Prometeu-me uma a festa de aniversário e não cumpriu com a promessa. Nem se justificou por que falhou comigo.
Puxa! Eu não devia reclamar! Nelma mudou um de seus costumes por minha causa. Dormia tarde e levantava-se tarde. Hoje, às sete horas, basta eu pôr as patinhas dianteiras em sua cama, do lado em que ela está, e latir baixinho que se levanta e me leva ao quintal. Apesar de fazer minha vontade, não perdeu o hábito de reclamar.
Kika e Cacau amam a Nelma e são correspondidas. Eu prefiro a Cacau. Ela demonstra gostar de mim. As duas cachorras dão-se muito bem. Sempre as vejo atravessando o quintal em disparada. Brincando ou descansando, as duas percebem qualquer barulho estranho e logo avisam latindo sem parar. Infeliz de quem entrar no quintal sem ser convidado! Uma novidade: Cacau parou de fazer arte.
No próximo capítulo encerro minhas confidências que envolveram vários vizinhos. E por falar em vizinho, o Zeus está sendo adestrado numa cidade perto daqui. Às vezes, vem passar o fim de semana com o dono.

Na 4ª–feira, nosso derradeiro encontro.
* Professor e consultor de Informática nascido em São Paulo.


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

sexta-feira, 6 de abril de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

“Somente o animal doméstico, cão ou gato, ama sem impor condições, sem limite de tempo, sem cobrança; apenas ama e zela!”   Neide Martins  *



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Se eu desejo algo, mordo de leve no calcanhar de quem estiver perto de mim. Nelma entende o significado desse gesto e reclama afirmando que o Tostão latia de modo diferente pra pedir o que desejava, e Dandara falava com os olhos.
Vocês estão percebendo quantas vezes minha dona cita o Tostão? E agora acrescentou a Dandara. Será que também vou ser comparado à gata? Animal que eu detesto! Era só o que me faltava! 
-- * --
Ainda não descrevi a aparência das duas do quintal. Kika, comprida e baixa, tem o corpo coberto de pelos brancos com pintas pretas, as orelhas e em volta dos olhos os pelos são pretos. Cacau, todinha da cor de mel, focinho preto, esguia, é grandona.
Eu constantemente as observava no quintal. Notei que naquele lugar, muito maior do que a varanda, meu território, teria oportunidade de correr bastante. Bolei um plano. Parei de fazer as necessidades fisiológicas. Nelma pensou em levar-me à médica; antes, porém, resolveu submeter-me a um teste. Em seu colo, fui ao quintal. Logo que me soltou, corri, fiz bastante xixi, em seguida, cocô. Ela concluiu que mais uma vez consegui impor-lhe minha vontade. Valeu! Eu ia percorrer um espaço grande. Só não podia brincar com a Cacau. Nessas ocasiões, Kika e Cacau ficavam presas no quarto da bagunça de olho em mim, através da grade de um pequeno portão de ferro aproveitado da antiga horta.
Quando serei digno de confiança? Livre da vigilância de minha dona e de outras pessoas podendo correr pelo quintal ao lado de Cacau, pois a Kika nunca brincou comigo. No entanto não é tudo que existe no quintal que eu gosto. Escorregar na rampa é ruim! Ela foi construída na época em que Luma adoeceu e não conseguia subir o degrau alto que a levava à sua casa.
Nelma coloca-me deitado na parte superior da rampa e com um leve empurrão em minhas costas, eu deslizo até embaixo. Pra completar meu aborrecimento, ri de mim. Brincadeira de mau gosto! Assim que posso, saio dali correndo. Do quarto da bagunça, Cacau e Kika observam a gente. Queria saber o que elas pensam sobre isso. É lógico que nunca vão me dizer!

Eu tenho guarda-costas. Vejam o que vai acontecer na 2ª-feira (09/04/12)
* Escritora, jornalista e advogada nascida em Minas Gerais.

quinta-feira, 5 de abril de 2012


Volto às novelas da TV-Globo: “Fina Estampa” e “Aquele Beijo”

“Fina Estampa”, de Aguinaldo Silva e colegas, finalmente acabou, mas ficou inacabada. Ruim foi a vilã Teresa Cristina aparecer no último capítulo dentro de um carro. E quem a viu? Sua inimiga Griselda.
Estamos numa época de falta de punição, mas não é por isso que as novelas têm de imitar a realidade. O Clô ainda brincou com o telespectador não revelando seu misterioso amante, outra bobagem.
As pessoas que eu conheço e que acompanharam o folhetim não gostaram, principalmente do último capítulo. Então a opinião de fraca não é somente minha! E o interessante é que em programas televisivos, escutei elogios a essa novela.
O folhetim, “Aquele Beijo”, de Miguel  Falabella e outros, às 19h,30, horário em que a garotada está assistindo à televisão, abusou de tentativas de assassinato contra parentes.
A cena em que filha e irmã de Deusa, a milionária, tramam sua morte foi chocante. Rapidamente, o assassino de aluguel fez o serviço. Se a filha vai se arrepender ou não de ter concordado com o assassinato da mãe, e se esta vai viver ou não, é irrelevante, o que ficou latente foi o gesto da desalmada filha e da vingativa irmã de acabar com a vida de Deusa.
Nesta mesma novela, irmã e sobrinha tentaram matar irmã e tia respectivamente também por causa de dinheiro. Poxa! Num mesmo folhetim, cenas semelhantes, repetindo-se ganância e crueldade de pessoas que têm um único objetivo: dinheiro. Isto é péssimo para crianças e adolescentes que estão acompanhando a novela! Neste horário, as tramas não deviam ter cenas picantes e/ou criminosas!
“Aquele Beijo”, novela que podia ser sensacional do princípio ao fim, só não foi por abusar de crimes, aliás, por que os autores acrescentaram o atentado contra Deusa? Já não bastavam as maldades de Olga e de sua filha, de um advogado inescrupuloso, de um bandido colombiano e de outras pessoas de índole má que fizeram parte da trama?

Amanhã, 6ª-feira, não percam o 15º capítulo de “Meu nome é Yan” (Sou o cachorrinho mais levado do planeta).

quarta-feira, 4 de abril de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Ninguém pode queixar-se da falta de um amigo, podendo ter um cão.”
Marquês de Maricá  *





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Embora não aprovasse as palavras de Nelma, continuei deitado perto dela. Sabia que suas reclamações eram da boca pra fora. Todavia, demonstrou que estava sentida comigo. Sua voz parecia de pessoa cansada. Lamentou:
– Yan já é adulto e continua levado!
– Ele acabou de completar um ano! – defendeu-me Mara.
– Outro dia, de manhã, puxou a tolha da mesa, e a louça do café foi parar no chão. Prejuízo e sujeira. O Tostão na idade dele não mexia em nada!
– Os animais também são diferentes! O Yan vai mudar. É questão de tempo.
– Já cansei de esperar pela mudança que não vem!
– Não fale assim! Meu afilhado é uma gracinha!... Muito lindo!
Mara não percebeu que me fez feliz, pois naquela altura eu me encontrava arrasado! Aí, escutei:
– O Tostão era mais inteligente do que o Yan!
Hum! Piorou minha situação. Detesto ser comparado a outros cachorros, principalmente ao Tostão. Que nomezinho feio! Quanto mais Nelma o elogia, mais aumenta em mim a vontade de ser diferente dele! Não pensem que sinto ciúme? Minha dona normalmente me trata muito bem e sabe que sou seu amigo de verdade, o mais sincero, o mais presente. E apesar de eu não ser bebê, ela de vez em quando me olha com carinho e pergunta:
– De quem é o mais lindo bebê cãozinho do mundo?
-- * --
Deitado na sala, eu me recordei da noite em que degluti um veneno que parece giz. Foi feito pra ser riscado nas partes internas das portas dos armários e nos lugares onde as baratas invadem as casas. Os pequenos pedaços que sobravam, Nelma jogava-os no interior dos armários.
Era noite, eu abocanhei um pedacinho desse veneno que caiu do armário. Minha dona viu. Tentou tirá-lo de minha boca, mas não adiantou, já tinha engolido. Aí, sim, a pobre viu a “viola em cacos”, pois achava que eu ia morrer! Chorou sem saber o que fazer. A sorte é que vomitei. Ela então me deu um pouco de leite. Após bebê-lo tornei a vomitar. Mesmo sabendo que os vômitos limparam meu estômago, Nelma pedia que os Santos protetores dos animais me salvassem. Coitada! Sofre demais por causa de minhas travessuras! Mas não me dá pra ninguém! E eu não quero outra dona! Apesar de nossas divergências, não podemos ficar longe por muito tempo.

Brincadeira de mau gosto na próxima 6ª-feira.
* Escritor, filósofo e político nascido no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 2 de abril de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

“Cães têm uma forma de encontrar as pessoas que deles necessitam, preenchendo um vazio que nem sequer elas sabem que tem.”    Thom Jones * 




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Em uma noite enluarada, eu, minha dona e Clô estávamos na varanda. Depois de andar um pouco, de cheirar as plantas, deitei-me aos pés de Nelma. Esta falou emocionada: “O Yan deu vida a minha vida!” Gostei, porém causou-me admiração, pois repreendia meus atos e fazia queixas de mim. Com certeza, desejava que eu fosse um cãozinho educado...
Nelma tem diversas manias. Uma delas: Quando se encontra no escritório trabalhando não gosta de ser interrompida. Certa vez, estava mergulhada no computador, e eu queria brincar. Entrei no escritório correndo e latindo na tentativa de chamar sua atenção. Pra livrar-se de mim, deu-me um ossinho. Má ideia! Não demorou e se arrependeu do que fez. 
Vocês conhecem osso próprio pra cães? O ossinho que recebi era do meu tempo de bebê e estava esquecido em minha gaveta. Eu tenho uma gaveta pra guardar meus pertences. Nelma entregou-me o osso a fim de que a deixasse em paz. Mais tarde lembrou-se dele e foi procurá-lo. Vasculhou a casa e não o encontrou. Olhou-me com expressão de dúvida e perguntou:
– Yan, você engoliu o ossinho?
É claro que não obteve resposta. Calado estava calado permaneci. Ela ficou desesperada ante sua suspeita.
No exato momento em que eu era indagado a respeito do osso, minha madrinha chegou. Ao saber do ocorrido, abriu-me a boca, apertou-me a garganta e concluiu que eu tinha engolido o osso. Nelma mais desesperada ficou.
Mara acertou, o osso desceu e parou no estômago. Foi sem querer, juro! A madrinha procurou acalmar a amiga dizendo que o osso não me causaria dano, ia desmanchar-se antes da primeira evacuação. Minha dona continuou nervosa. E eu não entendia o motivo de tanto barulho.
– Quando o Yan vai tomar jeito? – perguntou irritada.
– Tenha paciência, Nelma! Lembra-se do cãozinho de minha sobrinha, o Baco, da mesma raça do Yan, que de vez em quando passa uns dias comigo?
– Impossível esquecê-lo! É um Shih-tzu lindo e comportado! Muito diferente do Yan!
– Baco também foi levado; depois de adulto dorme o dia inteiro.
Como minha dona é exagerada, hem? Falar que o outro é muito diferente de mim: lindo e comportado! Ele pode ser tranquilo, porém mais bonito do que eu, duvido!
As duas prosseguiram conversando, e eu, o alvo das reclamações de Nelma.

Outra perigosa travessura na 4ª-feira.
* Cantor nascido no País de Gales.