sexta-feira, 30 de março de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

“Lembrem-se do Todo Poderoso, que nos deu o cão como companheiro de nossos prazeres e de nosso trabalho, investindo-o de natureza nobre e incapaz de causar decepções” Sir Walter Scott *   





12

Se existe uma coisa que gosto de fazer é desamarrar os laços de tênis e de sapatos com cadarço. Minha dona esconde todos de mim. O mesmo faço com as portas dos boxes que vivem amarradas com uma fita pra que eu não entre. Muitas vezes, consigo desamarrar esses laços. Sou perito nisto. Também desabotoo fivelas de sandálias. Tenho ou não tenho predicados? Nelma acha interessante minha habilidade, mas não a aprova! Como agradar aos humanos? Difícil!
Desde pequenino, eu olhava a rua com admiração. Não via os riscos que minha dona apontava: carros correndo, cães bravos maiores do que eu, pessoas que maltratam animais. Eram muitas coisas ruins que em minha cabeça não existiam. Achava que Nelma dizia aquilo pra me amedrontar, contudo nunca senti medo.
Mas um belo dia Coda, o Pitbull, estava na rua com seu dono. Súbito, surgiu do nada um Rottweiler enorme, morador do bairro, indo na direção de meu vizinho que imediatamente recebeu ordem pra afastar-se do agressor. Deu meia-volta, mas o outro foi atrás dele. O dono do Rottweiler veio correndo aos gritos. Como se isso fosse conter o bravo animal. Este chegou mais perto de Coda que o ignorou. O oponente, no entanto, latindo alto, encarou-o com raiva. Queria briga. Os cães engalfinharam-se. O dono do Rottweiler não conseguiu contê-lo e ao tentar separar os animais caiu. Nada grave! Coda, porém, largou o agressor cumprindo a nova ordem. Afinal, cada cachorro acompanhou o respectivo dono pra alívio dos que assistiam à violenta cena.
Dizem que briga de Rottweiler e Pitbull não acaba bem. Pelo visto, essa teve um final inesperado. Não houve vítima.
Tive de concordar com Nelma, a rua pode ser perigosa. Não é lugar pra um cãozinho de meu tamanho. Ela afirma que cachorro de porte grande e bravo deve sair com coleira, guia e focinheira.
Minha dona nunca se esqueceu de Luma, da raça Rottweiler, que viveu dez anos. Kika, cachorrinha moradora de rua, veio fazer companhia à cadela a fim de acalmá-la. Deu certo. As pessoas da casa ficaram livres dos pulos de Luma que poderiam jogá-las ao chão. A Rottweiler demonstrava claramente a preferência por Nelma. Ninguém se aproximava de sua dona que a chamava de doce. Luma não saía de casa porque gostava do quintal, o oposto de mim. Ah! Se eu pudesse passear! Seria mais feliz do que sou. Tenho certeza de que Cacau e Kika pensam assim.

Não percam o susto de Nelma na 2ª-feira (02/04/12).
*  Romancista, poeta e advogado escocês.

quarta-feira, 28 de março de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“O erro da ética até o momento tem sido a crença de que só se deve aplicá-la em relação aos homens.”  Albert Schweitzer *

  

 11


Não cumprindo ordem médica, Nelma nessa segunda fase do pós-operatório livrava-me do tal cone na hora do almoço e só o colocava depois do jantar. No entanto, não desgrudava de mim pra que eu não coçasse as partes afetadas. Aos poucos, meu olho voltou ao normal. Quando retornei à médica após uma semana, ela retirou os pontos. Mas a “bolsa” que se formou no local de um dos cortes, parecendo de água, não desapareceu mesmo com o diurético que tomei. Foi minha dona que chamou a parte inchada de “bolsa”. Esta não me atrapalhou, continuei aprontando. A coitada da Nelma, porém, não se conformava ao ver os pulos que eu dava pra apanhar qualquer coisa que eu quisesse e estivesse fora de meu alcance.
Os animais não são encucados como os humanos. Problemas de saúde, nós tiramos de letra. Nem me importei com a dita “bolsa”, ao contrário de minha dona que a examinava a toda hora pra ver se estava diminuindo.
A doutora garantiu que o organismo se encarregaria de fazê-la sumir. Demorou, mas livrei-me da “bolsa”. A Nelma ficou mais feliz do que eu! Preocupa-se demais com a gente!
Deixando no esquecimento as coisas tristes, quero falar de Zeus. Ele e Belão se entenderam depois de umas semanas de resistência do gato.
Zeus é meio parecido comigo e com a Cacau no que diz respeito a fazer o que não pode. Outro dia, ouvi a Nelma e a mãe de Pedro, o dono de Zeus, conversando. O assunto, a última traquinagem do Bebezão, como minha dona carinhosamente o tratava.
Era um dia chuvoso, e ele estava na rua pra fazer suas necessidades. Ao perceber que o leite que vem da fazenda tinha acabado de chegar, correu na direção da carroça do entregador e se meteu embaixo dela. Quando saiu de lá, estava coberto de barro. A mãe de Pedro, ao topar com Zeus adentrando pela sala bem decorada e lançando barro em todas as direções, foi atrás dele “cuspindo fogo”. Dá pra imaginar a sujeira que o Bebezão fez no piso claro da casa. Eu não queria estar na pele de meu amigo!
As duas reclamavam, uma de mim e a outra de Zeus. Apesar das reclamações, elas aguentavam nossas travessuras. Nelma aconselhou-a a que procurasse um bom adestrador para o cão. Embora ele tivesse de ausentar-se de casa; ao voltar, não causaria mais problemas, garantiu minha dona.
Da mesma forma que o Zeus, eu amava a rua, porém duvidava de seus perigos, até que um dia presenciei algo realmente perigoso.

Somente na 6ª-feira vocês vão saber o que aconteceu!
* Teólogo, músico e médico alsaciano.  Prêmio Nobel da Paz – 1952.

segunda-feira, 26 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)



"Só quem teve um cão sabe o que é ser amado.”
Friedrich Nietzsche *


10

Nelma aborrecida por causa do meu olho vermelho indagou à veterinária a razão daquilo. A doutora respondeu que foi um acidente quando o enfermeiro colocou no meu pescoço o cone, acessório indispensável pra impedir que eu mexesse nas partes afetadas.
Após a cirurgia fiquei triste. Mas não havia outra solução, precisava ser operado pra evitar doença grave no futuro. Minha dona sofreu mais do que eu!
Passei três dias quieto, pois doía bastante. Soube que os médicos veterinários não dão remédio pra aliviar a dor, a fim de que os animais permaneçam imóveis e, assim, não arrebentem os pontos. Pra mim é cruel; pra eles, o certo.
Na hora de fazer as necessidades, ia à varanda no colo de Nelma que também me dava as refeições na boca e vários comprimidos. Bebia água sozinho graças ao meu bebedouro.
No quarto dia pós-operatório, apesar de sentir um pouco de dor, comecei a fazer estripulias, como mexer nas plantas, correr, pular, o que deixava Nelma nervosa tentando segurar-me. Durante nove dias, não consegui comer sozinho por causa do desagradável cone. De manhã até à noite, tinha sempre alguém no meu pé, pois eu agia como se nada tivesse acontecido comigo. Minha dona ameaçava:
– Quando você ficar bom, vai levar uns tapas! Desta vez, vai mesmo!
Acham que isso aconteceu? Claro que não! Mas nada que ela faça ou deixe de fazer por mim diminui o amor que trago no coração. Nós, cães, amamos com intensidade.
Nelma, naquela época, ainda reclamava do comportamento de Cacau e enaltecia Tostão e Dandara. Eu fingia não escutar o elogio e saía de perto dela, senão sobrava pra mim. Admito, porém, que sempre fui mais atrevido, rápido e pidão do que Cacau e Kika.
Todas as vezes que minha dona estava bebendo café, fitava-a com olhar de súplica. Ela me entendia, porém não me deixava provar uma gotinha sequer. Certo dia, ouvi:
– Yan, se você beber café vai dar cambalhota!
Que pretendia dizer com essas palavras? Eu ia ficar mais agitado por causa do café? Virar no ar? Ah! Ela estava zombando de mim! Eu mereço!
Por ser desobediente, prejudiquei os pontos dos cortes, e a doutora não pode tirá-los no nono dia.
Como Nelma reclamou! Era um blá-blá-blá sem fim. Disse que o Tostão se comportava bem quando ficava doente. E arrematou:
– É isso aí, quem não tem juízo ou é desobediente sofre as consequências de seus atos.



Pra vocês uma travessura de Zeus na 4ª-feira.


* Filósofo, pensador e filólogo alemão.

sábado, 24 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

"Se você não tem um cachorro – pelo menos um –, não há necessariamente alguma coisa errada em você, mas pode haver alguma coisa errada em sua vida."
Vincent Van Gogh *




9


Nelma sabia quase tudo a respeito de meus ancestrais que tiveram um início de vida romântico e quase acabaram tragicamente. Ela prosseguiu com a narrativa. Eu e Mariana estávamos atentos.
– No início do século passado, esses pequenos animais foram criados por ricas famílias chinesas. Mas ao ser a China invadida pelo Japão, em 1937, a raça quase desapareceu. Só não foi extinta porque criadores ingleses haviam importado vários Shih-tzus.
– Importado? – perguntou Mariana.
– Os ingleses compraram na China os cães Shih-tzus evitando assim sua extinção.
– Ainda bem! Já imaginou se não existisse essa raça, o Yan não teria nascido?
Nelma sorriu e concordou:
– É verdade, Mariana! Já me acostumei com Yan. Lamento que não seja obediente!
– Ele é tão carinhoso!
E sou mesmo! Deixei-as naquele bate-papo e sem alternativa fui beber água no meu bebedouro. Estava com sede.
Tenho outra amiga, a Mara, a gente se conheceu na loja. Lembram-se? Ela é minha madrinha e de vez em quando vem me visitar. Amei o presente que me deu. Coloquei-o junto de meus brinquedos espalhados pelo chão.
-- * --
A tristeza acompanha a felicidade porque a vida não é feita só de alegria, escutava a Nelma falar. E não é mesmo, tive de concordar.
Numa das visitas à médica veterinária, ficamos sabendo que eu precisava ser operado. Além de ter uma hérnia, tinha um testículo interno. Uma semana após essa conversa, voltamos à clínica. Fui internado. Uma jovem levou-me para um cubículo com grade que ficava num salão enorme onde havia outros cachorros na mesma situação, isto é, enjaulados. Não gostei do local. As horas passavam devagar. Mais tarde, um rapaz de roupa branca carregou-me até à sala de cirurgia. De repente, tudo escureceu. Dormi. Ao acordar estava novamente na jaula. No outro dia, Nelma foi buscar-me; assustou-se quando viu meu olho esquerdo muito vermelho. Perguntou:
– Que aconteceu com o olho do Yan? Também foi operado? – desdenhou.
– A doutora explica pra senhora o que aconteceu – respondeu a jovem que estava comigo no consultório.

Na 2ª-feira (26/03/12), superação.* Pintor holandês.

quarta-feira, 21 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Gatos amam mais as pessoas do que elas permitiriam. Mas eles têm sabedoria suficiente para manter isto em segredo.” Mary Wilkins *





8

Temos outro vizinho, o gato Belão. Ele é semelhante ao gato das Florestas Norueguesas. Conta Nelma que Belão ficava na nossa varanda namorando a Dandara que o olhava através da tela que cobre a janela do escritório. Após alguns minutos de troca de olhares, a gatinha descia da janela, deixando Belão com cara de bobo. Ele então ia embora.
Pra enriquecer ainda mais a vizinhança chegou Zeus, um Golden Retriever. Ele foi morar na casa de Belão. Como será que o gato vai tratá-lo?
Nelma acha todos os animais domésticos bonitos, principalmente eu. Fiz amizade com o Coda e com o Zeus. Eles na calçada, e eu protegido pela tela que cobre a metade da grade do jardim.
-- * --
Nelma também pesquisou no computador minha origem. A raça Shih-tzu é o símbolo do amor impossível. Ela contou a Mariana que há muitos e muitos anos uma princesa chinesa e um jovem mongol (povo existente no Tibet) se apaixonaram, mas como esse amor era impossível, eles resolveram perpetuá-lo através de dois cães, um Pequinês, originário da China, e uma Lhasa Apso, do Tibet. Do cruzamento desses dois cães surgiu a raça Shih-tzu, este nome é do dialeto chinês antigo e significa “cão leão”.
– É verdade, Nelma? – quis saber Mariana.
– Existem muitas lendas sobre a origem da raça Shih-tzu.
– O Yan é tão fofinho!
Mariana olhou-me com carinho passando a mão nas minhas costas. Sua amizade é sincera. A garota gosta de mim e de minha dona, e nós gostamos muito dela.
Nelma levantou-se e disse:
– Vou fazer um suco de limão. Mariana fique de olho no Yan. Já volto!
Engraçado! Por que todos têm que tomar conta de mim? Não demorou, Nelma trouxe uma bandeja com uma jarra, dois copos e um prato com biscoitos. Pelo cheiro, eram de nata, os que raramente Ju me dá escondido de Nelma. Esta encheu um copo de suco e entregou à Mariana, depois se serviu, e eu, nada! Fitava-as com vontade de beber o suco e saborear os deliciosos biscoitos. Nenhum pedacinho de biscoito caiu no chão. Fiquei com água na boca.

Não percam! Nelma vai contar a tragédia que envolveu meus antepassados na 6ª-feira próxima.
* Escritora americana.

segunda-feira, 19 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Se excluirmos o fumo e o jogo, veremos com surpresa que quase todos os prazeres de um homem podem ser, e quase sempre são, compartilhados com seu cão.” George Bernard Shaw *


7

Nelma, apesar de gostar de mim, não perdia o hábito de queixar-se às amigas:
– O Yan é muito bagunceiro! Até os arranjos de flores da sala e da varanda o incontrolável cãozinho estragou sem mencionar os prejuízos maiores.
– Ele é bebê! Não demora e para de fazer arte! – elas sempre me defendiam.
– Não sei, não! Yan vai completar um ano!
Eu não ligo às reclamações de minha dona! Todo o mundo me acha bonito. Se alguém me elogia, Nelma esquece as travessuras que faço.
Às vezes, jantamos no mesmo horário. Uma noite, ao perceber que meu prato estava cheio, e eu a olhava imóvel, ameaçou-me:
– Se você não comer, não lhe dou ricota de sobremesa!
Diante da advertência, engoli a comida e fiquei de olho em Nelma que, ao acabar de jantar, me fitou e viu meu prato vazio. Falou admirada:
– Você comeu tudo depressa... Entendeu minhas palavras. Estou encantada!
Hum! Claro que entendi. Só não faço o que não quero. Ficar sem ricota, nem pensar! Eu aprecio demais essa iguaria! A ração seja lá de que marca for é horrível. Experimentem! Vocês vão me dar razão! Garanto que mudam a dieta de seus cães! Nelma já comprou rações diferentes. Todas são ruins. A minha sorte é que ela a mistura com carne moída cozida e cenoura. Aí dá pra encarar! A Cacau e a Kika comem ração com arroz e carne moída. Já meu cãozinho de pelúcia não precisa de alimento. Melhor pra ele!
As duas do quintal são mais conformadas do que eu com referência à alimentação, aliás, com referência a tudo!
Nós temos vários vizinhos. Existe o Coda, um Pitbull bonitão e aparentemente educado. Ele não gosta do Toquinho, da raça pura brasileira, parecido com a Cacau, que mora do outro lado da rua. Se o bonitão pegá-lo não há educação que evite uma tragédia. Já reparei que Toquinho não foge de casa do jeito que fazia antes do Coda aparecer. Ele agora corre desconfiado pela nossa rua, mas se perceber que o portão da casa do inimigo está aberto dá meia-volta. Deixa o passeio pra mais tarde.
Quem mandou implicar com um cão forte e temido por muita gente? Foi Toquinho que iniciou a guerra, pois ao passar pelo portão do outro, latia pra atazanar quem estava quieto. Eu não corro nenhum perigo, pois quase não saio nem consigo fugir. Toquinho e Coda não são meus únicos vizinhos do reino animal.

Como surgiu minha raça. Leiam na 4ª-feira.
* Escritor, jornalista e crítico literário irlandês. Prêmio Nobel de Literatura – 1925.

sexta-feira, 16 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)
“Falai aos animais, em lugar de lhes bater.”                               
                                                                              Leon Tolstoi *



6

A Kika quando foi morar com a Nelma já era adulta, daí não lhe deu nenhum trabalho. Ao contrário de Cacau que ainda bebê fez muitas artes. Embora ela fosse constantemente ameaçada de apanhar, jamais levou uma surra! Minha dona vive dizendo: “Yan, vou lhe dar uns tapas!”, mas nunca me bateu. 
Eu dentro e fora de casa tenho de ser vigiado por causa dos móveis, dos arranjos e das plantas; Cacau do lado de fora destruindo arbustos, flores, comendo terra e puxando roupa do varal. Que turminha brava, hem!
As pessoas que lidam com os cães sabem que eles são levados e desobedientes na infância, portanto não deviam se aborrecer com suas estripulias. Não as entendo!
A vida de animal de estimação é repleta de novidades pra nós e nossos donos. As travessuras às vezes lhes dão prejuízo, mas a maioria acaba se conformando, pois nos ama e tem paciência com a gente. Em contrapartida, desde pequeninos, os cães amam incondicionalmente seus donos; sentem sua falta; acham que eles são os mais bonitos do mundo; se castigados não guardam rancor; não podem viver sem sua companhia; levam a vida do jeito que eles querem; são carinhosos e gostam de carinho; protege-os mesmo sendo do meu tamanho, pois tenho dentes bem afiados.
-- * --
Quando bebê não gostava de tomar banho. Não era por causa da água, mas por causa do barulho do secador. No dia do banho, aos sábados, ao ver Melissa, fugia dela.
Certa vez, fiz algo que um cachorrinho educado não faz. A Nelma ficou brava na hora, mas depois achou graça.
Vocês sabem que os cães da raça Shih-tzu gostam que cocem sua barriguinha. Nessas ocasiões, deitamos de barriga pra cima. Mas naquele dia, minha intenção não era receber carinho de Melissa. Assim que me deitei de costas, ela coçou minha barriga. Súbito, um jato de xixi jorrou pra cima e caiu em seu braço. Melissa não se aborreceu comigo. Pelo contrário, desculpou-me por saber que eu detestava banho. Limpou-se, pegou-me no colo, enfiou-me na gaiola que fica no banco de trás de seu carro. Logo chegamos ao local apropriado pra banho e tosa de animais. Começa o sufoco: Água jorrando em quantidade absurda em cima de mim. Sou obrigado a fechar os olhos por causa daquele mundo de espuma que não acaba nunca! Esfrega daqui, esfrega dali! O barulho do secador é insuportável! Depois de uma hora, penso que estou livre, mas falta o enfeite que prende os meus maravilhosos pelos no alto da cabeça. Saio de lá limpo, seco e perfumado. Quando chego, Nelma me abraça e diz que estou lindo! Eu sei o que passo todas as semanas nas mãos de Melissa pra ficar daquele jeito!

Conheçam na 2ª-feira (19/03/12) meus vizinhos do mundo animal.
* Escritor, pensador e militar russo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

"Os animais foram criados pela Mão caridosa de Deus, a mesma que nos criou... É nosso dever protegê-los e promover seu bem-estar."  Madre Teresa de Calcutá *




5

Os cachorros da minha raça têm problemas nos olhos e usam colírio. Eu não fugi à regra. Além do colírio, Nelma limpa meus olhos com soro fisiológico. Não gosto! No início, dava trabalho pra que ela seguisse a ordem da médica veterinária. Embora eu ficasse contrariado, depressa esquecia tudo e continuava aprontando!
Durante um tempo, a decoração de nossa casa sofreu algumas modificações por minha causa. Na mesa do centro da primeira sala, Nelma tirou os enfeites porque com a patinha jogava tudo em cima do tapete. Na mesa da sala de almoço, só colocava toalha na hora das refeições e me deixava longe da sala, senão com a boca puxava a toalha para o chão e o que estivesse sobre ela.
Tinha uma cama em que nunca me deitei, arrastava-a pela casa. Quando cresci um pouco, ganhei um sofá que pode virar cama. Também não usei. Nelma dizia que ele era bonito, azul com estampa colorida de animais, carrinhos e outras figuras. Apesar de as tentativas, não estraguei o sofá. Nelma colocou-o fora de meu alcance na esperança de que um dia eu durma nele. No seu escritório, só entro acompanhado, pois os fios do computador me atraem. Minha intenção é brincar com eles, mas todos garantem que vou estragá-los. Acho que é implicância comigo. Estou errado? Eu dou motivos pra Nelma me considerar um cãozinho especial. Tenho certeza disso!
Minha dona é muito religiosa. Pra que eu não fizesse barulho na hora da novena que acompanha diariamente, ela me levava para o quarto e antes de ligar a televisão me mandava permanecer quieto. E não é que eu a obedecia?
Hoje, não há necessidade de recomendação, assisto à novena diariamente e, aos domingos, à missa e à novena sem dar um pio. Difícil de acreditar, hem? Mas é a pura verdade!
-- * --
Na nova moradia, encontrei duas cachorras que têm uma casa de madeira no quintal: Kika, adulta e Cacau meses mais velha do que eu. Pra Nelma, elas são da raça pura brasileira. As outras pessoas as chamam de vira-lata. Fiz amizade com Cacau. A gente brincava quando ela ia à varanda com a Kika. Isto acontecia raramente. Minha dona tinha medo de que Cacau me machucasse com suas unhas grandes e afiadas. Tantos cuidados atrapalhavam, ou melhor, atrapalham meu viver!
Nelma ama os animais e sofre quando os vê sofrendo. Acho que é por isto que não consegue nos educar. Nós fazemos o que desejamos, e quando a arte ultrapassa a barreira da tolerância é um “deus nos acuda”!
Sufoco no capítulo de 6ª-feira. Confiram!
* Nascida na República da Macedônia e naturalizada indiana. Prêmio Nobel da Paz – 1979.

segunda-feira, 12 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

                 “Felizes os cães que pelo faro descobrem os amigos.” 
                                                                                        Machado de Assis *
 
 


 4

 Eu só fazia o que tinha vontade. A planta que estivesse ao meu alcance quase sempre a devorava. Nelma percebeu rápido minha teimosia. Desejava ser dura comigo, mas não era.  
Ao notar que eu mexia nos objetos que alcançava, pulando ou não, tirou tudo das prateleiras baixas, mas aí... Vários estragos eu já tinha feito!     
Quando me contrariavam, deitava de costas e mexia com as patinhas. Quem me viu fazer isso pela primeira vez foi a Ju. Disse que eu parecia um bebê birrento.   
Não é fácil ser cachorro! Ou será que estou sendo rigoroso com as pessoas que me amam, principalmente com a Nelma? Ela cuida de minha alimentação, me leva ao médico e compra tudo que preciso pra tornar minha vida feliz. Por exemplo, brinquedos de todos os tipos. Eu gosto mais de um cachorrinho de pelúcia e de uma bolinha azul. Ela corre pra debaixo dos móveis onde não consigo entrar, pois cresci. Se me lembro dela, paro em frente ao móvel no qual está e começo latir. Minha dona vive reclamando por ter de apanhá-la pra mim. Ameaça jogá-la fora, mas não joga.    
Ah! Tenho uma amiguinha, Mariana. É uma garota bonita, inteligente e estudiosa. Mora aqui perto e todos os dias me visitava após sair da escola. Eu e Mariana nos damos bem. Ela coça minha barriga. Se me segura nos braços, quase caio no chão. Não me zango por causa disso.   
O professor Renato, um gênio da Informática, tirou fotos de mim e de Mariana. Nós ficamos muito bonitos, eu mais do que ela, é claro. Nelma colocou uma das fotografias num lindo porta-retrato e deixou-o na sua galeria de fotos de parentes e amigos. Lá estão também as do Tostão com a amiguinha Cláudia e da Dandara, a gata que Nelma criou e também virou livro.   
Por causa dos estudos, a avó de Mariana agora não permite que ela venha aqui diariamente. Não acho que sua avó esteja certa, sou ótima companhia!     
Minha dona diz que, por ser compulsivo e arteiro, passo o dia fazendo o que não devo; à noite, porém, durmo igual a um anjinho. E os anjos dormem?   
Apesar de eu ser alegre, carrego comigo um problema que nenhum médico veterinário ainda conseguiu resolver.      

Na 4ª-feira, vocês saberão que problema é esse.
* Escritor e poeta nascido no Rio de Janeiro. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e seu primeiro presidente.

sexta-feira, 9 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

“Enquanto não amarmos um animal, uma parte de nossa alma permanecerá adormecida.”
 Anatole France*                
                                           
                                                    
3

De cara, Nelma disse que ia me ensinar onde fazer as necessidades fisiológicas. Pronto! Eis o motivo de minha intranquilidade. Mostrou-me um recipiente de plástico que colocou no banheiro de seu quarto. Assim que eu fazia xixi dentro de casa, ela molhava uma folha de jornal no xixi, quase encostava meu nariz no local e, sem me largar, pegava o jornal, dirigia-se ao banheiro e forrava o recipiente com ele. Durante dez minutos, deixava-me lá trancado. Quando me buscava, eu já tinha cortado o jornal em vários pedaços e engolido alguns. Ao perceber isso, ficou horrorizada. Não podia me abandonar sozinho no banheiro pra não transformar o jornal em meu prato predileto. A inútil tentativa durou dois meses. Nelma resmungava, aborrecida:
– Do mesmo jeito que ensinei ao Tostão estou ensinando a você! Ele não me deu trabalho pra aprender. Você é burro?
Ele aprendeu, mas eu, não! E burro não sou! Pretendia fazer as necessidades fisiológicas fora de casa pra respirar ar puro.
Nelma acabou desistindo de me ensinar o que eu não queria aprender. Levava-me pra varanda de nossa casa, onde havia vasos com flores. Era exatamente o que eu desejava. Sou ou não sou inteligente? De burro não tenho nada!
Rápido, peguei o fraco da Nelma: bastava eu gritar, e ela ia correndo me ver. Fazia isso porque não gostava nem gosto de ficar sozinho trancado. Minha dona falava que eu não podia percorrer a casa sem estar sob sua vigilância. Não confiava em mim, pois tudo que era proibido, eu fazia. Comecei por danificar os móveis do quarto dela, onde nós dormimos. Nelma devia estar acostumada com as travessuras de um cachorrinho, pois o Tostão, eu ouvi dizer que comia couro e chinelos.
Estraguei almofadas, arranjos de flores entre outras coisas. Chinelos? Destruí quatro pares caros. Pra mim era normal desobedecer qualquer ordem!
Na varanda, quem estivesse comigo, minha dona, suas secretárias Ju ou Clô, e a amiguinha Mariana, precisava me vigiar pra eu não me aproximar das plantas. Havia algumas venenosas. Nelma não parava de alertar-me a respeito disso. Amava-as e dizia que não ficaria sem elas por minha causa. Eu também não pretendia parar de mexer nos vasos. Gosto muito de samambaia!
 


Na 2ª-feira (12-03-12), vocês vão conhecer minha amiguinha Mariana.
* Escritor francês. Prêmio Nobel de Literatuta – 1921.

quarta-feira, 7 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

"O próprio homem não pode expressar amor e humildade por sinais externos, tão claramente como um cachorro, quando ele encontra seu amado mestre. Charles Darwin* 



                                                   2

Vários dias se passaram, e minha tristeza foi aumentando. Certa manhã ensolarada, eu escutei uma voz que não me era estranha:
– Ele ainda está aí?
O dono da loja respondeu:
– Está sim, Dona Nelma! Mas se a senhora quiser esperar por uma fêmea dentro de quarenta e cinco dias lhe trago uma.
Puxa vida! Até o dono da loja estava contra mim! Mas tive uma surpresa. Nelma segurou-me no colo, acariciou meus lindos pelos e exclamou:
– Coitadinho! Tanto tempo preso neste cercado! Vou levá-lo!
Oba! Que decisão certa! Comecei a gostar dela. Afinal me deu valor! Não lati agradecendo porque ainda não sabia latir.
O dono da loja levou-nos pra casa de Nelma, minha nova e definitiva residência. Assim esperava! No caminho, os dois conversavam. Nelma afirmou:
– Não sei qual nome vou dar a ele, se fosse fêmea tinha uma lista de nomes.
De novo ela demonstrou sua preferência. Não aprovei! O rapaz então tentou ajudá-la:
– Eu tenho um Shih-tzu de nome Yan.
– Bonito! – elogiou Nelma.
Ela pesquisou no computador, a fim de saber o significado de Yan. Descobriu que o nome de origem hebraica significava “deus é gracioso”. Realmente eu era gracioso. A partir daí, fiquei conhecido como Yan.
De acordo com meus dois meses e meio, eu fazia xixi a toda hora, em qualquer lugar; o cocô, duas vezes ao dia. Nelma já tinha experiência, pois cuidou de um pequinês de nome Tostão que viveu dezessete anos e ficou famoso por suas peripécias. A vida desse cachorrinho foi contada em dois livros de história pra crianças.
Nelma costumava dizer que sua tranquilidade terminou no dia em que lá cheguei.
Imaginem que eu ainda era bebê, e o vigor de minha infância estava prestes a explodir. Quando explodisse, como Nelma reagiria? Fiquei meio apreensivo. Mas logo descobri que ela era exagerada! Vocês vão ver!
Embora as pessoas daquela casa me tratassem bem, havia algo no ar que me deixava intranquilo.

Aprender ou não? Na próxima 6ª-feira.
* Cientista, naturalista e escritor inglês.

segunda-feira, 5 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

“Não sintam vergonha quando, às vezes, os animais estão mais próximos de vocês do que as pessoas. Eles também são seus irmãos.”         São Francisco de Assis *


                                                      
1

Tenho um ano de idade, mas como diz minha dona um ano de travessuras.
Bem... Pra ser honesto, ela tem razão, mas só um pouquinho. Não adianta reclamar e me pôr de castigo.Que  castigo? Com vários brinquedos, fico num espaço grande composto de área, cozinha, quarto e banheiro. Nos meus primeiros meses de vida, permanecia calado por um tempo. De repente, começava a gritar. Aí, ela ia correndo me livrar do castigo.
Ah! O principal: sou um lindo cãozinho da raça Shih-tzu. Pelagem tricolor: branca, bege e preta.
Vou contar pra vocês o que aconteceu comigo desde o momento em que eu e minha irmã fomos deixados num petshop à espera de um comprador. 
--*-- 
Minha irmã rapidamente arranjou um dono, e eu continuei dentro do cercado sozinho durante uns dias. Estava desanimado quando ouvi:
– Nelma, venha ver o cachorrinho que você quer comprar!
Em seguida, essa pessoa me pegou no colo e me fez carinho. Agora vou sair daqui! Exultei com a ideia! Nelma perguntou:
– É fêmea?
– Não! – a outra respondeu.
– Já disse que prefiro fêmea!
Que antipatia! Por que a clientela da loja prefere fêmea? Pois eu tenho orgulho de ser macho! O papo entre as duas prosseguiu:
– Deixa de bobagem, Nelma! Este cachorrinho é lindo!
– Por que você não o compra, Mara?
– Agora, não!
– Então vamos embora!
Mara cuidadosamente me colocou no cercado, afagou minha cabeça e disse que eu ia encontrar um bom dono.
Elas saíram, e eu continuei ali muito triste.
Talvez Mara tivesse razão, mas esse bom dono tinha de aparecer depressa; caso contrário, não aguentaria por muito tempo aquela situação.

No próximo capítulo o que o destino me reserva.

* Foi um frade italiano.

sábado, 3 de março de 2012

"Meu nome é Yan" (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)



No dia 05/03/12 começa “Meu nome é Yan” ( 2ª, 4ª e 6ª-feira). Em 15 capítulos, o primeiro ano de uma vida repleta de emoções. História pra quem gosta de animais, não importa a idade.  

quinta-feira, 1 de março de 2012

Meu nome é Yan, um cãozinho pra lá de esperto!

Se vocês gostam de animais domésticos não percam a história de um lindo cãozinho e seus amigos. Será contada em pequenos capítulos. Aguardem!