sábado, 17 de dezembro de 2011

Alma Penada


Tito gostava de passar susto nos amigos. Cansados de tanta brincadeira de mau gosto do colega, decidiram dar-lhe uma lição numa das vezes em que ele foi pescar sozinho.
O pescador atravessou a mata tranquilo; ao chegar à beira do rio, colocou os objetos de pescaria no chão, preparou o anzol com a isca, jogou-os nas águas que deslizavam mansamente. Não demorou, o anzol ficou preso. Ao puxar a linha com muita força, desequilibrou-se e caiu sentado. Verificou que o anzol e a isca sumiram. Isto aconteceu várias vezes. Tito, então, resolveu comer um sanduíche, não achou nenhum dentro da mochila. Procurou a garrafa de laranjada, também não se encontrava ali. “Será que tinha perdido o lanche pelo caminho?” – pensou. Como estava escurecendo, tentou acender o lampião, mas não conseguiu. A lanterna não funcionou. "Puxa! Hoje tá dando tudo errado!” – lamentou.
Naquela tarde, sem que Tito percebesse, seus amigos comeram seu lanche, danificaram o lampião e a lanterna. No rio, um dos rapazes mergulhou, prendeu o anzol de Tito debaixo de uma pedra e depois ia tirando os anzois e as iscas à medida que eram jogados na água. Um outro rapaz vigiava o pescador. Ao vê-lo irritado, ele foi juntar-se aos demais companheiros e contou-lhes sobre a reação de Tito. Decidiram voltar pra casa, pois tinham conseguido o que planejaram.
Tito, por sua vez, reuniu os apetrechos e aventurou-se pela estrada velha a fim de encurtar o caminho iluminado apenas pela claridade dos fósforos que ia riscando. De repente, escutou gritos que aumentavam e diminuíam. Já tinha ouvido falar da alma penada de uma mulher que há muitos anos sumira na mata. Não acreditou por achar que era história de pescadores. À medida que ele andava, a voz parecia mais perto. Pela primeira vez em sua vida, teve medo.
Em casa, tomou banho, jantou e foi pra cama. Nem dormiu direito.
Na manhã seguinte, contou tudo aos amigos. Estes assumiram a responsabilidade pelo fracasso da pescaria, porém não tinham ouvido nenhum grito de mulher.
Daí, todos concluíram que a lenda da alma penada não era lenda e sim verdade.
O rapaz nunca mais perturbou os amigos com brincadeiras. Sentiu na pele o que elas causavam. Além disso, acreditou que a alma penada só importunava pessoas de comportamento intolerável.   E você acredite se quiser!

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