MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)
“Ninguém pode queixar-se da falta de um amigo, podendo ter
um cão.”
Marquês de Maricá *
14
Embora não aprovasse as palavras de Nelma, continuei
deitado perto dela. Sabia que suas reclamações eram da boca pra fora. Todavia,
demonstrou que estava sentida comigo. Sua voz parecia de pessoa cansada.
Lamentou:
– Yan já é adulto e continua levado!
– Ele acabou de completar um ano! – defendeu-me Mara.
– Outro dia, de manhã, puxou a tolha da mesa, e a louça do
café foi parar no chão. Prejuízo e sujeira. O Tostão na idade dele não mexia
em nada!
– Os animais também são diferentes! O Yan vai mudar. É
questão de tempo.
– Já cansei de esperar pela mudança que não vem!
– Não fale assim! Meu afilhado é uma gracinha!... Muito
lindo!
Mara não percebeu que me fez feliz, pois naquela altura eu
me encontrava arrasado! Aí, escutei:
– O Tostão era mais inteligente do que o Yan!
Hum! Piorou minha situação. Detesto ser comparado a outros
cachorros, principalmente ao Tostão. Que nomezinho feio! Quanto mais Nelma o
elogia, mais aumenta em mim a vontade de ser diferente dele! Não pensem que
sinto ciúme? Minha dona normalmente me trata muito bem e sabe que sou seu amigo
de verdade, o mais sincero, o mais presente. E apesar de eu não ser bebê, ela
de vez em quando me olha com carinho e pergunta:
– De quem é o mais lindo bebê cãozinho do mundo?
-- * --
Deitado na sala, eu me recordei da noite em que degluti um
veneno que parece giz. Foi feito pra ser riscado nas partes internas das portas
dos armários e nos lugares onde as baratas invadem as casas. Os pequenos
pedaços que sobravam, Nelma jogava-os no interior dos armários.
Era noite, eu abocanhei um pedacinho desse veneno que caiu
do armário. Minha dona viu. Tentou tirá-lo de minha boca, mas não adiantou, já
tinha engolido. Aí, sim, a pobre viu a “viola em cacos”, pois achava que eu ia
morrer! Chorou sem saber o que fazer. A sorte é que vomitei. Ela então me deu
um pouco de leite. Após bebê-lo tornei a vomitar. Mesmo sabendo que os vômitos
limparam meu estômago, Nelma pedia que os Santos protetores dos animais me
salvassem. Coitada! Sofre demais por causa de minhas travessuras! Mas não me dá
pra ninguém! E eu não quero outra dona! Apesar de nossas divergências, não
podemos ficar longe por muito tempo.
Brincadeira de mau gosto na próxima 6ª-feira.
* Escritor,
filósofo e político nascido no Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário