quarta-feira, 4 de abril de 2012


MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Ninguém pode queixar-se da falta de um amigo, podendo ter um cão.”
Marquês de Maricá  *





14

Embora não aprovasse as palavras de Nelma, continuei deitado perto dela. Sabia que suas reclamações eram da boca pra fora. Todavia, demonstrou que estava sentida comigo. Sua voz parecia de pessoa cansada. Lamentou:
– Yan já é adulto e continua levado!
– Ele acabou de completar um ano! – defendeu-me Mara.
– Outro dia, de manhã, puxou a tolha da mesa, e a louça do café foi parar no chão. Prejuízo e sujeira. O Tostão na idade dele não mexia em nada!
– Os animais também são diferentes! O Yan vai mudar. É questão de tempo.
– Já cansei de esperar pela mudança que não vem!
– Não fale assim! Meu afilhado é uma gracinha!... Muito lindo!
Mara não percebeu que me fez feliz, pois naquela altura eu me encontrava arrasado! Aí, escutei:
– O Tostão era mais inteligente do que o Yan!
Hum! Piorou minha situação. Detesto ser comparado a outros cachorros, principalmente ao Tostão. Que nomezinho feio! Quanto mais Nelma o elogia, mais aumenta em mim a vontade de ser diferente dele! Não pensem que sinto ciúme? Minha dona normalmente me trata muito bem e sabe que sou seu amigo de verdade, o mais sincero, o mais presente. E apesar de eu não ser bebê, ela de vez em quando me olha com carinho e pergunta:
– De quem é o mais lindo bebê cãozinho do mundo?
-- * --
Deitado na sala, eu me recordei da noite em que degluti um veneno que parece giz. Foi feito pra ser riscado nas partes internas das portas dos armários e nos lugares onde as baratas invadem as casas. Os pequenos pedaços que sobravam, Nelma jogava-os no interior dos armários.
Era noite, eu abocanhei um pedacinho desse veneno que caiu do armário. Minha dona viu. Tentou tirá-lo de minha boca, mas não adiantou, já tinha engolido. Aí, sim, a pobre viu a “viola em cacos”, pois achava que eu ia morrer! Chorou sem saber o que fazer. A sorte é que vomitei. Ela então me deu um pouco de leite. Após bebê-lo tornei a vomitar. Mesmo sabendo que os vômitos limparam meu estômago, Nelma pedia que os Santos protetores dos animais me salvassem. Coitada! Sofre demais por causa de minhas travessuras! Mas não me dá pra ninguém! E eu não quero outra dona! Apesar de nossas divergências, não podemos ficar longe por muito tempo.

Brincadeira de mau gosto na próxima 6ª-feira.
* Escritor, filósofo e político nascido no Rio de Janeiro.

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