sexta-feira, 9 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)

“Enquanto não amarmos um animal, uma parte de nossa alma permanecerá adormecida.”
 Anatole France*                
                                           
                                                    
3

De cara, Nelma disse que ia me ensinar onde fazer as necessidades fisiológicas. Pronto! Eis o motivo de minha intranquilidade. Mostrou-me um recipiente de plástico que colocou no banheiro de seu quarto. Assim que eu fazia xixi dentro de casa, ela molhava uma folha de jornal no xixi, quase encostava meu nariz no local e, sem me largar, pegava o jornal, dirigia-se ao banheiro e forrava o recipiente com ele. Durante dez minutos, deixava-me lá trancado. Quando me buscava, eu já tinha cortado o jornal em vários pedaços e engolido alguns. Ao perceber isso, ficou horrorizada. Não podia me abandonar sozinho no banheiro pra não transformar o jornal em meu prato predileto. A inútil tentativa durou dois meses. Nelma resmungava, aborrecida:
– Do mesmo jeito que ensinei ao Tostão estou ensinando a você! Ele não me deu trabalho pra aprender. Você é burro?
Ele aprendeu, mas eu, não! E burro não sou! Pretendia fazer as necessidades fisiológicas fora de casa pra respirar ar puro.
Nelma acabou desistindo de me ensinar o que eu não queria aprender. Levava-me pra varanda de nossa casa, onde havia vasos com flores. Era exatamente o que eu desejava. Sou ou não sou inteligente? De burro não tenho nada!
Rápido, peguei o fraco da Nelma: bastava eu gritar, e ela ia correndo me ver. Fazia isso porque não gostava nem gosto de ficar sozinho trancado. Minha dona falava que eu não podia percorrer a casa sem estar sob sua vigilância. Não confiava em mim, pois tudo que era proibido, eu fazia. Comecei por danificar os móveis do quarto dela, onde nós dormimos. Nelma devia estar acostumada com as travessuras de um cachorrinho, pois o Tostão, eu ouvi dizer que comia couro e chinelos.
Estraguei almofadas, arranjos de flores entre outras coisas. Chinelos? Destruí quatro pares caros. Pra mim era normal desobedecer qualquer ordem!
Na varanda, quem estivesse comigo, minha dona, suas secretárias Ju ou Clô, e a amiguinha Mariana, precisava me vigiar pra eu não me aproximar das plantas. Havia algumas venenosas. Nelma não parava de alertar-me a respeito disso. Amava-as e dizia que não ficaria sem elas por minha causa. Eu também não pretendia parar de mexer nos vasos. Gosto muito de samambaia!
 


Na 2ª-feira (12-03-12), vocês vão conhecer minha amiguinha Mariana.
* Escritor francês. Prêmio Nobel de Literatuta – 1921.

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