segunda-feira, 26 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)



"Só quem teve um cão sabe o que é ser amado.”
Friedrich Nietzsche *


10

Nelma aborrecida por causa do meu olho vermelho indagou à veterinária a razão daquilo. A doutora respondeu que foi um acidente quando o enfermeiro colocou no meu pescoço o cone, acessório indispensável pra impedir que eu mexesse nas partes afetadas.
Após a cirurgia fiquei triste. Mas não havia outra solução, precisava ser operado pra evitar doença grave no futuro. Minha dona sofreu mais do que eu!
Passei três dias quieto, pois doía bastante. Soube que os médicos veterinários não dão remédio pra aliviar a dor, a fim de que os animais permaneçam imóveis e, assim, não arrebentem os pontos. Pra mim é cruel; pra eles, o certo.
Na hora de fazer as necessidades, ia à varanda no colo de Nelma que também me dava as refeições na boca e vários comprimidos. Bebia água sozinho graças ao meu bebedouro.
No quarto dia pós-operatório, apesar de sentir um pouco de dor, comecei a fazer estripulias, como mexer nas plantas, correr, pular, o que deixava Nelma nervosa tentando segurar-me. Durante nove dias, não consegui comer sozinho por causa do desagradável cone. De manhã até à noite, tinha sempre alguém no meu pé, pois eu agia como se nada tivesse acontecido comigo. Minha dona ameaçava:
– Quando você ficar bom, vai levar uns tapas! Desta vez, vai mesmo!
Acham que isso aconteceu? Claro que não! Mas nada que ela faça ou deixe de fazer por mim diminui o amor que trago no coração. Nós, cães, amamos com intensidade.
Nelma, naquela época, ainda reclamava do comportamento de Cacau e enaltecia Tostão e Dandara. Eu fingia não escutar o elogio e saía de perto dela, senão sobrava pra mim. Admito, porém, que sempre fui mais atrevido, rápido e pidão do que Cacau e Kika.
Todas as vezes que minha dona estava bebendo café, fitava-a com olhar de súplica. Ela me entendia, porém não me deixava provar uma gotinha sequer. Certo dia, ouvi:
– Yan, se você beber café vai dar cambalhota!
Que pretendia dizer com essas palavras? Eu ia ficar mais agitado por causa do café? Virar no ar? Ah! Ela estava zombando de mim! Eu mereço!
Por ser desobediente, prejudiquei os pontos dos cortes, e a doutora não pode tirá-los no nono dia.
Como Nelma reclamou! Era um blá-blá-blá sem fim. Disse que o Tostão se comportava bem quando ficava doente. E arrematou:
– É isso aí, quem não tem juízo ou é desobediente sofre as consequências de seus atos.



Pra vocês uma travessura de Zeus na 4ª-feira.


* Filósofo, pensador e filólogo alemão.

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