segunda-feira, 19 de março de 2012

MEU NOME É YAN (Sou o cachorrinho mais levado do planeta)


“Se excluirmos o fumo e o jogo, veremos com surpresa que quase todos os prazeres de um homem podem ser, e quase sempre são, compartilhados com seu cão.” George Bernard Shaw *


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Nelma, apesar de gostar de mim, não perdia o hábito de queixar-se às amigas:
– O Yan é muito bagunceiro! Até os arranjos de flores da sala e da varanda o incontrolável cãozinho estragou sem mencionar os prejuízos maiores.
– Ele é bebê! Não demora e para de fazer arte! – elas sempre me defendiam.
– Não sei, não! Yan vai completar um ano!
Eu não ligo às reclamações de minha dona! Todo o mundo me acha bonito. Se alguém me elogia, Nelma esquece as travessuras que faço.
Às vezes, jantamos no mesmo horário. Uma noite, ao perceber que meu prato estava cheio, e eu a olhava imóvel, ameaçou-me:
– Se você não comer, não lhe dou ricota de sobremesa!
Diante da advertência, engoli a comida e fiquei de olho em Nelma que, ao acabar de jantar, me fitou e viu meu prato vazio. Falou admirada:
– Você comeu tudo depressa... Entendeu minhas palavras. Estou encantada!
Hum! Claro que entendi. Só não faço o que não quero. Ficar sem ricota, nem pensar! Eu aprecio demais essa iguaria! A ração seja lá de que marca for é horrível. Experimentem! Vocês vão me dar razão! Garanto que mudam a dieta de seus cães! Nelma já comprou rações diferentes. Todas são ruins. A minha sorte é que ela a mistura com carne moída cozida e cenoura. Aí dá pra encarar! A Cacau e a Kika comem ração com arroz e carne moída. Já meu cãozinho de pelúcia não precisa de alimento. Melhor pra ele!
As duas do quintal são mais conformadas do que eu com referência à alimentação, aliás, com referência a tudo!
Nós temos vários vizinhos. Existe o Coda, um Pitbull bonitão e aparentemente educado. Ele não gosta do Toquinho, da raça pura brasileira, parecido com a Cacau, que mora do outro lado da rua. Se o bonitão pegá-lo não há educação que evite uma tragédia. Já reparei que Toquinho não foge de casa do jeito que fazia antes do Coda aparecer. Ele agora corre desconfiado pela nossa rua, mas se perceber que o portão da casa do inimigo está aberto dá meia-volta. Deixa o passeio pra mais tarde.
Quem mandou implicar com um cão forte e temido por muita gente? Foi Toquinho que iniciou a guerra, pois ao passar pelo portão do outro, latia pra atazanar quem estava quieto. Eu não corro nenhum perigo, pois quase não saio nem consigo fugir. Toquinho e Coda não são meus únicos vizinhos do reino animal.

Como surgiu minha raça. Leiam na 4ª-feira.
* Escritor, jornalista e crítico literário irlandês. Prêmio Nobel de Literatura – 1925.

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